quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Esse é da orelha

A variedade de perspectivas com que o personagem malandro é abordado na ficção brasileira demonstra a riqueza dessa figura e ajuda na compreensão do fascínio e interesse que desperta até hoje. Desde Leonardo filho em Memórias de um sargento de milícias, romance de Manuel Antônio de Almeida, até Passistinha em Cidade de Deus, escrito por Paulo Lins, são observados aproveitamentos distintos nos textos analisados: ora como o tipo brejeiro ou sedutor, mais próximo de sua idealização, como em Ópera do malandro (Chico Buarque), ora como um sujeito bem pouco simpático, no papel de antagonista, como em Clara dos Anjos (Lima Barreto).
Contudo, a habilidade de trânsito e negociação se confirma em todos os exemplares. De igual modo, o jogo se manifesta como um dos traços mais básicos da malandragem. Independentemente da modalidade, a prática lúdica pode se revelar como emblema de um comportamento singular, ousado e criativo. Essa percepção é mais evidente quando se analisa o conto Malagueta, Perus e Bacanaço, de João Antônio. Seus protagonistas percorrem bares de São Paulo em busca de grandes apostas nas mesas de sinuca. Ao conjugar sua técnica sobre o pano verde e o acaso, nem sempre favorável, esses malandros aproximam jogo e vida, cuja imprevisibilidade demanda coragem e habilidade para superação dos obstáculos. Essa leitura revela um malandro flexível e dinâmico, capaz de contrariar o pessimismo de muitos analistas contemporâneos, afirmar sua vitalidade e resistir ao tempo.

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